27 de jun. de 2009

O significado de muriqui

Muriqui, buriqui, miriqui ou miriquina são variações de um nome de origem tupi, cujo significado não está satisfatoriamente esclarecido. Nos últimos 10 anos popularizou-se a crença de que muriqui significa “povo manso da floresta”. Sem dúvida é uma expressão que lembra a sociedade muriqui, caracterizada por baixa agressividade, quando comparada a outros primatas. De certa forma, é um nome que vem ao encontro de nossos ideais de uma sociedade pacífica e igualitária, de maneira que é compreensível que tenha sido tão bem aceito. Mas confesso que não me convenci e não consegui encontrar a fonte dessa tradução para muriqui.
Pesquisando um pouco, encontrei a definição de Teodoro Sampaio, em “O tupi na Geografia Nacional”, sugerindo que buriqui, ou muriqui, é uma corruptela de Myra-Qui, “gente que se bambaleia, que vai e vem”. Quem já observou os movimentos dos muriquis, sabe que essa descrição cai perfeitamente para a eles. Sua locomoção do tipo braquiação, típica dos macacos da subfamília Atelinae, e dos gibões asiáticos, realmente passa aquela imagem de um ser que bambaleia, que se balança de um lado para o outro. Essa definição também é aceita por Alcides Pissinatti, em seu artigo publicado em “Neotropical Primates”, Vol. 13, Supplement. Até segunda ordem, fico com esta definição, que me parece mais sensata.

Cabe lembrar que, segundo Alvaro Aguirre, o nome “mono” é o mais comum por toda a área de distribuição dos muriquis. Em alguns lugares, usa-se “mono-carvoeiro”, a que Aguirre atribui ao fato de alguns exemplares terem manchas escuras no corpo, lembrando um trabalhador de carvoaria. Mono, evidentemente, significa macaco, e é provável que seja uma simplificação de “mono-carvoeiro”. Aguirre também cita outros sinônimos, como “mono-cavalo” que, creio eu, deve-se à vocalização que lembra um relincho, e o termo “koupo”, que Augusto Ruschi cita como usado pelos índios botocudos. O príncipe Alemão Maximiliano de Wied Neuwied, em “Beitrage zur Naturgeschichte”, Vol. II, publicado em 1826, já citava o termo “kupó”, usado pelos botocudos. Em Santa Maria de Jetibá, Espírito Santo, os descendentes de pomeranos chamam os muriquis de “wita oop”, que significa macaco branco e, eventualmente, “mona-branca”.

14 comentários:

  1. Bom, essa abundância de nomes diferentes mostra a importância dos nomes científicos complicados que nós cientistas usamos, como Brachyteles hypoxanthus para o muriqui-do-norte e Brachyteles arachnoides para o muriqui-do-sul. Parabéns pelo blog Sérgio!

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  2. Obrigado Yuri. Cabe lembrar que encontramos na literatura mais de um nome científico para a mesma espécie, e os muriquis são um bom exemplo disso: Ateles arachnoides, Ateles hypoxanthus, Brachyteles macrotarsus, Eriodes hemidactylus, Eriodes tuberifer, Eriodes arachnoides, Cebus hypoxanthus, Cebus arachnoides, entre outros. Uma diferença importante é que todos os nomes populares (ou vulgares) são válidos, enquanto, em tese, só há um nome científico válido para cada espécie. Mas, como você bem sabe, muitas vezes os taxonomistas tem dificuldade em chegar a um consenso sobre o nome correto, ou seja, aquele que tem prioridade.

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  3. Segundo o Houaiss, registram-se os seguintes nomes: buriqui, buriquim, mariquina, mono, mono-carvoeiro, muriquina.
    O mesmo autor menciona, como etimologia do nome "muriqui", o tupi mbïrï'ki 'macaco da fam. dos cebídeos'; f. buriqui, com base na adp. ao port. de mb- > m- ou b-; o -i final pode nasalizar-se para -im/-ina e dar margem a f. como buriquim, muriquina e mariquina. Entretanto não fornece uma "tradução" do nome.
    Outra coisa: Sempre pensei que o "carvoeiro" fosse por causa do rosto escuro.

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  4. Pois é, José, eu também pensei isso. Mas o mestre Aguirre, com base em exemplares do Museu de Zoologia da USP, afirma que "...há indivíduos com manchas escuras no corpo, como que provenientes da lida com carvão". Exemplares, estes, que tive o prazer de analisar recentemente, no referido Museu.

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  5. Complementando, em Alemão o muriqui é conhecido como Spinnenaffe (macaco-ranha), em francês, Singe-araignée laineux, e em inglês Woolly Spider Monkey (ambos significando macaco-aranha-lanoso). No Brasil o termo "macaco-aranha" é usado para as espécies do gênero Ateles, também conhecidas como "coatás". Tanto os muriquis, quanto os coatás, tem membros e cauda bem alongados, lembrando o formato de uma aranha.

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  6. Muito interessante as possíveis origens do nome e os diferentes nomes populares. Para um cientistia, é muito importante reconhecer esses nomes já que muitas vezes novas populações podem ser descobertas com a ajuda de pessoas que os utilizam. Gostei muito da idéia do blog Sérgio. Vou divulgar. Parabéns!

    Abraço

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  7. Realmente é muito interessante essa diversidade dos nomes, tanto os científicos quanto os vulgares. A título de curiosidade, quando comecei a trabalhar com os muriquis no Zoo de Curitiba (O Zoo abriga uma colônia de muriquis-do-sul) lembro me de ouvir um dos tratadores chamar os bichos de " os cotá amarelo"...o intrigante aqui é que o tratador era baiano!

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  8. Cacs, realmente é interessante porque o funcionário do Zoológico provavelmente já cohecia o coatá (Ateles) e percebeu que trata-se de macacos aparentados. É a taxonomia zoológica popular. Assim que os nomes surgem e alguns acabam pegando.

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  9. Pois é Sérgio. Eu não sei exatamente de que região da Bahia era esse tratador, mas o que me ocorreu é que ele pode ter conhecido ainda quando criança ou mesmo ouvido falar do muriqui-do-norte. Afinal, seguindo os registros de Aguirre, os muriquis habitavam até o sul da Bahia!!!

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  10. Ele não teria conhecido os coatás no próprio zoológico onde trabalhava?

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  11. Sérgio, pois então, ele chamava os supostos coatás de macacos-aranha mesmo, assim como todos os outros tratadores! Portanto, difícil dizer de onde ele tirou esse nome.

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  12. Oi. Sou estudante de biologia e estou fazendo um trabalho sobre primatas, gostaria de obter informações mais concretas sobre este assunto.
    Desde ja obrigada.
    Cris.

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  13. valeu mesmo tenho projeto sobre primatas pra entregar mes que vem!!!! muito obrigado!!!!

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  14. Sergio

    Por favor, envie seu e-mail.

    Fernando D. de Avila Pires
    favila@matrix.com.br

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