22 de jul. de 2009

A evolução dos primatas

Com exceção da espécie humana, os primatas atuais ocorrem naturalmente apenas nas regiões tropicais e subtropicais do Planeta. Eles estão restritos à Ásia, África, América Central e América do Sul. Mas, como e quando teriam se originado? Como chegaram aos diferentes continentes?

Há 65 milhões de anos atrás, quando os dinossauros se extinguiram, a fauna era bastante estranha, comparado ao que conhecemos hoje. Os mamíferos já existiam, mas eram representados por pequenos animais de hábitos noturnos e discretos. Alguns eram os monotremados, que punham ovos, ancestrais das équidnas e ornitorrincos. Havia um maior número de marsupiais, mamíferos com bolsas (marsúpios) para proteger os filhotes. Os poucos mamíferos com placenta consistiam, principalmente, de insetívoros, que são ancestrais dos primatas. Ainda não existiam os grande mamíferos pastadores e seus predadores, bem como a maioria das ordens de mamíferos que conhecemos hoje.

Entre 56 e 55 milhões de anos atrás surgiram as primeiras formas da maioria das ordens de mamíferos atuais. Começaram a aparecer os mamíferos placentários de maior tamanho e com maiores cérebros. Nessa época, também evoluíram os primeiros primatas, que eram representados por formas semelhantes aos atuais prossímios, que vivem na África e Ásia, incluindo os famosos lêmures da ilha de Madagascar. Havia muitos gêneros e espécies de prossímios, provavelmente devido à ausência de competição com os primatas mais avançados, que só surgiram posteriormente. Nessa época, os prossímios eram encontrados na América do Norte, Europa, Ásia e África, mas os continentes tinham formatos, posições e climas diferentes do que tem hoje.

Há 50 milhões de anos a América do Norte, Europa, África e Ásia eram continentes praticamente interligados, o que facilitou a dispersão dos primatas por toda essa área, a partir do ponto em que evoluíram. Entretanto, a América do Sul estava separada da América do Norte e da África, embora a distância para este último continente era menor do que atualmente.

Provavelmente os primatas chegaram à América do Sul há cerca de 30 milhões de anos. Acredita-se que eles vieram da África ou América do Norte. De qualquer forma, eles teriam que atravessar o oceano para chegar até aqui, já que nessa época a América do Sul era uma imensa ilha isolada de todos os demais continentes. As evidências sugerem que a África é o mais provável continente de origem dos primatas. Sobre a viagem transatlântica dos primatas, falarei no próximo texto.

1 de jul. de 2009

Curiosidades sobre o nome “muriqui”.

Nossos nobres macacos não são os únicos muriquis famosos. Quem acompanha o futebol brasileiro certamente já ouviu falar no jogador “Muriqui”, atleta que já passou por vários clubes, estando hoje no Avaí Futebol Clube, de Florianópolis. Seu nome verdadeiro é Luiz Guilherme da Conceição Silva e ganhou esse apelido por ser nativo do distrito de Muriqui, no município de Mangaratiba, litoral do Rio de Janeiro.

O município de Niterói, no Rio de Janeiro, também tem um bairro chamado Muriqui, que inclui as localidades Muriqui Grande, Muriqui Pequeno e Morro dos Macacos. É um bairro afastado do centro, localizado entre serras, numa região com características rurais.

No município de Guarapari, Espírito Santo, há uma localidade denominada Muriquioca, que em tupi provavelmente significa “morada dos muriquis”. Álvaro Aguirre, em seu artigo clássico de 1971, conta que na Fazenda Muriquioca havia 6 muriquis em uma mata de 170 ha, no ano de 1966. Com o desmatamento de 5 ha, onde havia bons alimentos para os macacos, o pequeno bando desapareceu.

27 de jun. de 2009

O significado de muriqui

Muriqui, buriqui, miriqui ou miriquina são variações de um nome de origem tupi, cujo significado não está satisfatoriamente esclarecido. Nos últimos 10 anos popularizou-se a crença de que muriqui significa “povo manso da floresta”. Sem dúvida é uma expressão que lembra a sociedade muriqui, caracterizada por baixa agressividade, quando comparada a outros primatas. De certa forma, é um nome que vem ao encontro de nossos ideais de uma sociedade pacífica e igualitária, de maneira que é compreensível que tenha sido tão bem aceito. Mas confesso que não me convenci e não consegui encontrar a fonte dessa tradução para muriqui.
Pesquisando um pouco, encontrei a definição de Teodoro Sampaio, em “O tupi na Geografia Nacional”, sugerindo que buriqui, ou muriqui, é uma corruptela de Myra-Qui, “gente que se bambaleia, que vai e vem”. Quem já observou os movimentos dos muriquis, sabe que essa descrição cai perfeitamente para a eles. Sua locomoção do tipo braquiação, típica dos macacos da subfamília Atelinae, e dos gibões asiáticos, realmente passa aquela imagem de um ser que bambaleia, que se balança de um lado para o outro. Essa definição também é aceita por Alcides Pissinatti, em seu artigo publicado em “Neotropical Primates”, Vol. 13, Supplement. Até segunda ordem, fico com esta definição, que me parece mais sensata.

Cabe lembrar que, segundo Alvaro Aguirre, o nome “mono” é o mais comum por toda a área de distribuição dos muriquis. Em alguns lugares, usa-se “mono-carvoeiro”, a que Aguirre atribui ao fato de alguns exemplares terem manchas escuras no corpo, lembrando um trabalhador de carvoaria. Mono, evidentemente, significa macaco, e é provável que seja uma simplificação de “mono-carvoeiro”. Aguirre também cita outros sinônimos, como “mono-cavalo” que, creio eu, deve-se à vocalização que lembra um relincho, e o termo “koupo”, que Augusto Ruschi cita como usado pelos índios botocudos. O príncipe Alemão Maximiliano de Wied Neuwied, em “Beitrage zur Naturgeschichte”, Vol. II, publicado em 1826, já citava o termo “kupó”, usado pelos botocudos. Em Santa Maria de Jetibá, Espírito Santo, os descendentes de pomeranos chamam os muriquis de “wita oop”, que significa macaco branco e, eventualmente, “mona-branca”.

3 de jun. de 2009

O muriqui

Muriqui, mono ou mono-carvoeiro são nomes populares dados aos macacos do gênero Brachyteles. Eles são considerados os maiores primatas das américas e são naturais, exclusivamente, da Mata Atlântica brasileira. Atualmente duas espécies são reconhecidas, o muriqui-do-sul, Brachyteles arachnoides, e o muriqui-do-norte, Brachyteles hypoxanthus. Ambos são ameaçados de extinção, principalmente por causa do desmatamento e caça predatória. Os muriquis-do-sul ainda são encontrados em remanescentes de matas nos estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Os muriquis-do norte ocorrem em matas isoladas nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.